"A prestigiada revista Nature (ver artigo de Filomena Naves, no DN de 25 de julho) alertou para a "bomba-relógo" representada para o clima e para a economia mundiais pelo iminente colapso parcial do "permafrost" dos fundos marinhos do oceano Ártico, agora exposto ao aquecimento da coluna de água exposta à radiação solar, devido ao degelo das massas de gelo flutuantes. Com isso poderão ser libertados para a atmosfera 50 mil milhões de toneladas de metano, cujo efeito de estufa é vinte vezes mais intenso do que o do dióxido de carbono. E não ficamos por aqui. Estudos sobre o comportamento dos oceanos mostram que a maior parte do calor associado às alterações climáticas está a ser absorvido pelos mares, e que, com uma alta probabilidade, ele será devolvido, parcialmente, à atmosfera, dentro de alguns anos, aumentando, assim, de modo brusco, a temperatura média à superfície do planeta.
Por outro lado, a
investigação sobre a criosfera, em particular na Gronelândia, revela-nos um
processo muito acelerado de desagregação dos glaciares, que provocará, se se
confirmar, uma subida, muito mais rápida do que o previsto, do nível médio do
mar, tornando o litoral numa zona ameaçada pelo aumento da erosão e da intrusão
marinha, danificando as infraestruturas costeiras. Enquanto andamos entretidos
com bagatelas como a "dívida soberana", encolhemos os ombros à
destruição acelerada da habitabilidade deste planeta que tratamos como se fosse
um de entre muitos, e não a única casa onde os nossos filhos poderão sobreviver
na solidão do infinito cósmico. A dívida soberana poderá ser reestruturada e
amenizada. A dívida ambiental, do futuro que estamos a deixar roubar aos mais
jovens, e aos que ainda não nasceram, essa, não tem perdão."
Viriato Soromenho
Marques - Diário
Notícias