"Porque é que as pessoas
vão ao teatro e no fim não ficam a discutir connosco?"
É uma enorme atriz, com o ar franzino de
quem não consegue parar quieta e uma voz que pode ter todas as cores. Está em
cena no Teatro S. Luiz, em Lisboa, com A Noite da Iguana, e é
protagonista da novela Amor Maior da SIC
Maria João Luís é uma atriz com uma
força e um talento que me deixam em estado de admiração total. Deixou para trás
as Belas Artes a que pensou dedicar-se mas para as quais, garante, "não
tinha jeito nenhum". Começou muito jovem a fazer pequenas atuações por
bares e outros ambientes, quando frequentava a Escola António Arroio, e a atriz
Maria do Céu Guerra reparou nela. Levou-a para A Barraca e Maria João nunca
mais parou. Está neste momento em cena, no papel de Maxine Faulk, em A
Noite da Iguana de Tennessee Williams, com os Artistas Unidos, ao lado
de Nuno Lopes e Joana Bárcia, no Teatro S. Luiz, em Lisboa. Chegou pontual e,
apesar de a entrevista ser marcada para uma manhã depois de uma representação,
sem dar sinais do cansaço que a intensidade da peça faria pressupor. O
calendário intenso das gravações da novela Amor Maior também
não lhe dá descanso. Mas é nessa mistura da lentidão do teatro com a rapidez da
novela que encontra o equilíbrio, ainda com tempo para o projeto Teatro da
Terra, em Ponte de Sor, que partilha com o marido Pedro Domingos, especialista
em luz.
Como é fazer
Tennessee Williams, uma peça tão boa, tão rica, tão longa, tão cansativa?
É um prazer. O Tennessee Williams
escreve de uma forma muito orgânica para o ator. É quase fácil entender o que
ele quer através da forma como escreve, através da toada inevitável das frases.
Quando lemos a peça apercebemo-nos imediatamente de qual é a intenção dele.
Alguns autores são mais intrincados, é mais difícil lá chegar. Ele tem uma
escrita que chega com muita facilidade à cabeça do ator. Daí eu não ver
normalmente os filmes antes de fazer os espetáculos. Tinha uma memória de ter
visto A Noite da Iguana e O Doce Pássaro da Juventude em cinema, mas procuro
não ver porque tenho muito medo de ser influenciada e isso retirar-me a minha
abordagem pura do texto.
A Noite da Iguana só foi feita uma vez em Portugal antes, não é
uma peça que pudesse ter visto em Portugal por outros atores.
Não. Tanto n' O Doce Pássaro da
Juventude como n' A Noite da Iguana, já depois de o
trabalho estar mais seguro, de eu perceber bem qual é a zona que me apetece
trabalhar daquele texto, vou ao filme. E é idêntico. Ou seja, as opções da
atriz que faz este papel, a Ava Gardner neste caso, são muito idênticas. Porque
está lá na escrita do Tennessee, é muito claro. Todas as nuances que
vamos procurando na representação são idênticas, porque é ele que as põe lá.
Não é muito comum, os autores normalmente não fazem isso.
Tinha lido o conto
inicial, sobre uma fase em que ele passou uns dias naquele hotel Costa Verde,
no México, numa situação de grande fragilidade e solidão. Ele escreve a peça
uns anos depois mas está sempre a mudá-la, quando já está a ser representada.
Ele vai rescrevendo. Era um autor
bastante assim, tinha alguma ansiedade e nunca estava satisfeito. Ele ia
mudando, e penso que não foi só n' A Noite da Iguana, penso que fez
isso noutras peças. Esta é a peça que acaba a grande carreira dele como autor.
Para mim, é talvez a que eu prefiro em termos de texto, da maneira como ele
fala das suas personagens, da forma como ele as defende. Há muita gente que diz
que o Tennessee Williams trata um bocado mal as mulheres nas suas peças, mas
vejam a forma como ele defende estas mulheres, defende as personagens, no
fundo. Todas elas, n' A Noite da Iguana. A liberdade de cada uma
destas pessoas, a sua luta pela sua liberdade, o seu conflito para se
libertarem, para serem livres. Acho que isso está nas três personagens
principais. E quero aqui elogiar brutalmente o trabalho dos meus dois colegas -
de todos os colegas deste espetáculo, mas das pessoas que têm mais
responsabilidade - a Joana Bárcia e o Nuno Lopes. São dois atores maravilhosos,
de uma seriedade incrível, e é sempre muito prazeroso trabalhar com pessoas que
têm uma seriedade tão grande no seu trabalho.
Deve haver um
desgaste físico brutal. O espetáculo dura três horas - duas horas e 40, como
intervalo. É muito intensa a vossa entrega.
Sim, exige bastante concentração.
E tem muito texto.
Começo a notar isso. Dantes tinha uma
memória que não me deixava notar. Aliás, fiz um monólogo, não sei se tem ideia,
de 1h45, não me calava o tempo todo, no Stabat Mater [de
Antonio Tarantino]...
...mas alguém pode
esquecer-se de ter visto o Stabat Mater feito pela Maria João
Luís? É impossível.
Decorar aquele texto para mim era
manteiga. Agora já não é bem assim. Pela primeira vez, n' A Noite da
Iguana tive a sensação de que isto já não vai lá com a mesma
facilidade. E o texto não é fácil, é complicado de decorar.
Tem imensas nuances.
Para se chegar o mais perto possível do
resultado final, foi um trabalho difícil, complicado, a tradução foi sendo
revista ao longo do processo. O Jorge ia revendo...
... o Jorge Silva
Melo?
Claro, o grande Jorge Silva Melo.
Com quem tens
trabalhado ao longo da vida. Os três atores estão quase sempre em cena. Como
ensaiaram? O autor mudava o texto todos os dias e entregava a nova versão ao
meio-dia. Seria possível fazer isso contigo?
Eu sou muito permeável a essas coisas.
Gosto de tudo o que seja novidade, gosto de coisas que me ponham à prova, e
sempre fui assim. Ainda continuo.
E se estivesse o
próprio autor ali?
Trabalhar com o autor seria
extraordinário.
Como ensaiaram?
Ensaiámos por partes. O espetáculo tem
muita gente em cena, e outros atores também extraordinários como a Isabel Muñoz
Cardoso, a Catarina Wallenstein, e muitos outros - mas a alguns o Tennessee
Williams deixa-os um bocado pendurados. Estão ali umas pessoas...
... uns alemães...
... uns turistas alemães que aparecem, e
uns empregados da Maxine que serão meio-amantes, meio-empregados. Estão para
ali esparramados no chão durante 2h40 e não dizem nada, riem-se, fazem umas
contracenas. Era escusado pôr aquelas pessoas todo o tempo a ensaiar connosco.
Os "alemães" chegaram muito perto da estreia e os empregados
mexicanos também. Ensaiei sobretudo com o Nuno Lopes numa fase, porque nós
temos mais responsabilidade na primeira parte do espetáculo, e depois com a
Joana um bocadinho mais tarde. Depois juntámos tudo.
Quando chega a
estreia, o que foi feito para trás aparece como?
Este espetáculo estreou de uma forma
bastante segura. Normalmente as estreias são sítios de grande tensão e
ansiedade, não se sabe bem como vai resultar. O Jorge trabalhou muito este
espetáculo. Este espetáculo foi ensaiado, ensaiado, ensaiado, repetido,
repetido, repetido. E tinha de ser assim, não havia outra maneira. Para ele
chegar a este nível de satisfação dos atores e do encenador era preciso
trabalhar muito. A dada altura perguntei-me - mas vamos fazer outra vez o primeiro
ato, já fizemos isto duas vezes hoje, vamos fazer outra vez? Será preciso isto?
Era preciso, era mesmo preciso. Porque havia sempre coisas que nos escapavam,
que nos falhavam. E sobretudo para o Nuno, que tem um texto extremamente
complicado. Ele está em cena do início ao fim e com uma entrega única. Sem
desprimor para todos os colegas com quem trabalhei, é raro ver um ator a
entregar-se desta forma. Isto coloca-nos a todos no sítio. A mim, que sou um
bocado baldas, aquilo coloca-me no sítio.
Um bocado baldas?
Sou bastante baldas.
Fazes teatro,
novela, cinema, e ainda tens o Teatro da Terra, e estás a dizer que és baldas?
Tenho medo de levar as coisas demasiado
a sério. Há uma coisa na seriedade que é assustadora para mim. Se eu levo
demasiado a sério, devo estar a estragar qualquer coisa, é o que eu sinto.
Suspeito. Não sei bem explicar. Tem de haver sempre em mim um lado de
"isto não tem importância". "Não há problema", como diz a
Maxine. Há coisas muito mais importantes na vida do que isto que estou a fazer,
momentos e coisas gravíssimas, e agora tudo o que se está a passar no mundo. O
que estamos a fazer tem para mim a importância de ser a minha escolha.
Porque ser atriz
foi uma escolha?
Sim, uma escolha que eu levo a sério na
medida daquilo que é a minha possibilidade de entrega.
A propósito de
capacidade de entrega poderia falar do filme da Patrícia Sequeira...
... Jogo de Damas...
...que teve uma
carreira curta nos cinemas mas que teve
...muito impacto...
...até pela maneira como as atrizes interagiam. E fazes também novelas.
Estás a fazer o Amor Maior. Há uma grande diferença? O teatro é
feito no momento, no palco, não dá para voltar atrás, repetir. No cinema ou na
novela pode-se sempre repetir.
Há diferença embora haja uma coisa
comum: a atriz é a mesma. No teatro há tempo para trabalhar cada gesto, cada
movimento. Por acaso, falei com o Nuno e a Joana sobre a intuição e a forma
como o ator aborda as coisas. Há atores mais intuitivos, atores menos
intuitivos, e estes são chamados de mais cerebrais. Sempre me disseram que eu
era uma atriz intuitiva. "Você tem uma intuição incrível, chega muito
rapidamente às coisas através da sua intuição".
E é verdade?
Não sou nada intuitiva, sou muito mais
cerebral. O teatro para mim é fantástico porque escolho cada momento, aquilo
não é à toa. A intuição ajuda, como é evidente, e está lá, mas é usada depois
de a matemática ser aplicada, e não o contrário. Eu até reservo a intuição e
deixo-a ficar de lado um bocadinho, para primeiro usar a matemática. E só depois
de isso estar tudo aplicado, então sim, entra a intuição - já em cena, já com o
espetáculo a correr, já com o espetáculo seguro.
Porque podem
acontecer imprevistos?
No teatro acontecem sempre. Aliás, é
isso que depois mantém vivo o espetáculo. Em televisão, usa-se muito mais a
intuição. Em televisão, há um tempo muito menor, mas no fundo não há uma grande
diferença. Hoje, não se pode fazer novela e repetir uma cena dez vezes.
Repete-se duas vezes e é preciso que tenha havido ali uma grande coisa. Não há
tempo. Cada vez mais é a grande indústria, a grande máquina a fazer novela. Na
Globo é igual, funcionam com outros horários mas é assim, e é o mesmo pelo
mundo fora. Isto é uma indústria. Mas é interessante, porque se está sempre à
procura de se fazer melhor. Mais rápido e melhor.
Disseste que a tua
memória está a diminuir. Mas a fazer uma peça como esta e uma novela ao mesmo
tempo, a memória tem de ser prodigiosa.
Tenho uma memória ainda boazita.
Sobretudo, o que é interessante no trabalho da novela é a rapidez com que se
chega à personagem. É horrível estar a dizer isto, vou ser linchada amanhã,
porque toda a gente quer mais tempo.
Daremos a notícia
amanhã do linchamento da Maria João Luís que acaba de dizer uma heresia.
É uma heresia mas é assim que eu sou. Do
que eu gosto naquilo é exatamente da velocidade a que aquilo é feito, da
rapidez. Do que eu gosto no teatro é do tempo para se fazer. Isto compensa-me
de alguma forma. Por isso eu faço teatro, estou sempre a fazer teatro, não
consigo deixar de fazer. Pior: eu estou cada vez pior.
Então?
Cada vez quero mais teatro. Mas também
não deixo de gostar de fazer televisão. De alguma maneira isto me equilibra.
Mas é perverso à brava porque trabalho muito, muitas horas.
E ainda há o
Teatro da Terra. Como arranjas tempo? E em que consiste?
O Teatro da Terra é um projeto que
comecei há cerca de sete anos, em Ponte de Sor, um projeto deslocalizado da
capital, e é o teatro na terra, na perspetiva de todos os organismos culturais
da zona e pessoas que queiram colaborar, fazer teatro, ter essa experiência.
Integramos grupos amadores, corais polifónicos, orquestras de harmónicas,
ranchos folclóricos. E fazemos espetáculos com muita gente, espetáculos de
grande porte, quase eventos.
Em que se
envolve...
...a comunidade. A comunidade que quer
participar vai participar.
Como é que isso
apareceu? Não és de Ponte de Sor.
Não sou de Ponte de Sor, tinha lá um
monte. O projeto é engraçado. Nós vivemos lá durante cinco anos, depois os
filhos começaram nas faculdades, viemos para Lisboa porque era mais fácil e eu
não consigo não estar perto dos meus filhos. A ideia de um filho sair de perto
de mim para vir para uma faculdade não estava a fazer sentido na minha cabeça,
nem do Pedro que também está neste projeto. O Pedro Domingos, o meu marido, é a
grande máquina do projeto, é ele que faz a produção e é o iluminador de A Noite
de Iguana, é o iluminador do Jorge Silva Melo, trabalha com ele desde a
fundação dos Artistas Unidos. Nós juntámos o útil ao agradável: vamos fazer um
projeto os dois, além dos projetos que temos em comum na vida. E é muito
prazeroso, adoro fazer. Porque eu acho que o teatro tem uma função social muito
forte. O teatro ensina a estar com os outros. A discutir, que é uma coisa que
cada vez se faz menos. Ainda ontem se falava sobre isso na sala antes de
entrarmos em cena. Por que é que as pessoas vão ao teatro e já não discutem o
teatro? As pessoas saem e nós ficamos tipo... e agora? Dantes não. Quando
comecei no teatro - e comecei há muitos anos - havia sempre gente à porta à
nossa espera para falarmos.
Quando o
espetáculo termina, penso: eles devem estar estoirados, vou deixá-los
descansar, mesmo que tenha perguntas para fazer e gostasse de ir conversar com
eles. Para vocês não é assim? Seria agradável que as pessoas estivessem à
espera e falassem convosco?
Um bocadinho. Para mim seria. Depois é
quase uma grande solidão, fica um vazio, uma coisa estranha. Dantes falava-se
imenso, havia muito aquela coisa de se sair à meia-noite e ir cear. Muita gente
não comia antes dos espetáculos. Ainda hoje há muita gente que não gosta de ir
para o palco com a barriga cheia. Ia-se cear a seguir. Era nessas ceias que se
juntavam os amigos que tinham ido ver, as pessoas que queriam discutir o
espetáculo. E ficava-se a falar até às duas da manhã, a discuti-lo mesmo.
E era frutuoso?
Muito frutuoso. Quando as coisas são
discutidas avançamos sempre, aprendemos há sempre alguma coisa que depois vai
passar de um projeto a outro. Alguma coisa há de ficar nas nossas cabeças.
Agora termina um
espetáculo e vocês vão cada um para a sua casa?
Cada uma para a sua casa. E mesmo as
próprias companhias discutem pouco umas com as outras. Fala-se pouco. As
pessoas não gostam de ouvir críticas, cada vez se gosta menos. Cada vez há
menos liberdade na crítica. E isto é uma coisa terrível, assustadora, não só no
nosso meio, e no nosso meio se calhar até se sente menos do que noutros, há de
haver outros em que isso ainda será pior. As pessoas têm medo de parecer mal.
Então mas que raio de liberdade é a nossa? Que raio de coisa é esta que nos está
a acontecer em que as pessoas têm medo? As pessoas têm medo. As coisas têm de
ser cada vez mais politicamente corretas e isso é assustador. Nós sentimos isso
nos finais dos nossos espetáculos. Imagino que se sinta muito mais nas grandes
empresas, isso deve ser ainda pior.
Em Ponte de Sor
conseguiste mudar isso, conseguiste pôr as pessoas a conversar?
Sim, e isso é muito importante, as
pessoas conversarem e ao mesmo tempo conhecerem-se realmente nas suas
fragilidades, nos seus medos. Não é fácil pisar um palco, há pessoas para quem
pisar um palco é atirar-se aos leões. Há medo, é preciso ter lata.
Como é que se
transmite isso a uma pessoa que vive em Ponte de Sor, que está habituada a
fazer a sua vida do dia-a-dia e que de repente vai para um palco?
Falando da importância de mostrar aquilo
que nós somos. O teatro é o que melhor te mostra o que tu és, o que é o ser
humano, é efetivamente o teu espelho. Não o espelho em que te vês todos os
dias, com os teus olhos, o teu nariz, a tua boca, mas o espelho que te mostra
aquilo que o ser humano é, totalmente, nas suas fragilidades, nas suas forças.
Nada te mostra melhor isso do que o teatro.
A Noite da Iguana é todo um texto sobre uma enorme solidão. Cada
uma daquelas pessoas vive na solidão, à beira do desespero, e vai lidando com
essa condição diferentemente. Tu és uma pessoa virada para os outros, com uma
vida cheia de pessoas à volta. Já foste confrontada com uma situação de
solidão?
Eu sou confrontada com solidão todos os
dias, porque uma pessoa está só, inevitavelmente. As pessoas estão sozinhas.
Temos um caminho que é traçado a sós. Não há outra maneira de dizer. Isso
implica solidão sempre. Eu sinto muito a solidão e não é uma coisa que me
desagrade, também é bom, faz parte. O caminho é solitário. Nasce-se e morre-se
sozinho.
Quero voltar à
questão de trabalhar com grandes atores. Como é que isso enriquece o vosso
trabalho? A Bette Davis ensaiava esta peça num cubículo. A interação que ela
não fazia é necessária?
A Bette Davis não fazia e muitos atores
antigos não faziam, não contracenavam quase com os elencos, liam os textos
sozinhos, com os assistentes. As primeira figuras só muito perto da estreia se
juntavam ao resto do elenco. Mas é muito importante. Trabalhar com pessoas da
qualidade intelectual e artística do Jorge Silva Melo e do Nuno Lopes, da Joana
Bárcia, da Isabel, é extraordinário. Aprende-se muito. Eu aprendi imenso,
muitíssimo, a trabalhar com o Jorge. E não só com aquilo que ele diz, é pela
maneira como ele se coloca perante as coisas, é muito interessante.
Os Artistas Unidos
existem há tantos anos e não têm um espaço próprio.
Têm um espaço pequenino da Politécnica e
têm de pagar imenso dinheiro por aquilo. O Jorge agora pôs umas imagens [no
facebook] e aquilo está a meter água por todo o lado. É muito triste a situação
da cultura neste país. Estão a dar-nos esperança, a dizer-nos "agora é que
vai melhorar". Eu quero acreditar que sim, tenho alguma esperança nestas
pessoas.
Ainda há pouco
tempo houve o episódio do fecho da Cornucópia e apareceu toda a gente a querer
salvar a Cornucópia.
Todo esse episódio foi muito triste,
tristíssimo. Como é que é possível que uma pessoa como o Luís Miguel Cintra, ao
fim de 40 anos, encerre a sua companhia crivado de balas e flechas e
controvérsia? Merecia fechar aquilo em paz. E todos os disparates que se
disseram, mesmo pessoas do teatro decidiram atacar uma coisa que não é
atacável. Em sítio nenhum do mundo seria atacável.
Tu passaste pela
Cornucópia.
Passei sim. São dos maiores do mundo.
Temos pessoas aqui que são consideradas das maiores do mundo. A Cristina Reis
[cenógrafa da Cornucópia] é uma das maiores cenógrafas do mundo. O Luís Miguel
fez durante 40 anos o trabalho de um teatro nacional, e primorosamente. É a
este homem que vamos atacar, vamos dizer ah ele agora vai fechar, mas ele quer
fechar ou não? Um disparate medonho, tudo aquilo. Eu não sei muito bem falar
sobre estas coisas, há pessoas que falarão melhor certamente, mas acho feio.
Como o meu pai dizia, é mal educado.
E está tudo dito
nessa expressão.
É mal educado.
Fonte - DN
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