10
de Junho de 2012.
"A vida é como a música. Deve ser composta de ouvido, com sensibilidade e intuição, nunca por normas rígidas." Samuel Butler
29 setembro 2012
23 setembro 2012
A Grande Conspiração
...
"Há quase
um ano que o venho escrevendo aqui: o programa económico deste Governo não se
limita a tentar endireitar as contas públicas à custa de sacrifícios cuja
insensibilidade e ineficácia são de bradar aos céus. Há também uma agenda
escondida, que envolve uma vingança sobre a história, uma desforra de classe,
quase uma alteração dos valores cívicos em que a Europa se funda. A
razão pela qual nada bate certo na política económica do Governo PSD (onde o
CDS faz de ingénuo útil) não tem que ver apenas com ignorância,
impreparação e incompetência - o que já seria suficiente, por sí só.
A razão pela qual todos temos como um trágico desastre aquilo que o
Governo persiste em classificar como um
sucesso, é que estamos a falar de coisas diferentes, de objectivos finais
diferentes. Os portugueses - que aguentam tudo estoicamente há um ano, sem
porem o dinheiro a salvo no estrangeiro ou desatarem a
partir montras, como fazem os gregos - confiavam que, atravessado o Inferno,
limpo o estado das suas célebres "gorduras" e de todos os
que , acima e abaixo, dele abusaram anos a fio, poderiam ter de
volta um dia a economia, os empregos, as suas vidas. Porém, o
objectivo de Passos Coelho e do seu quinteto de terroristas económicos (Gaspar,
Moedas, António Borges, Braga de Macedo e Ferraz da Costa) é outro bem
diferente: eles querem mudar o paradigma económico, mesmo que para tal tenham
de destruir o país, como, aliás, estão a fazer. Fiel aos ensinamentos dos seus
profetas americanos, esta extrema-direita económica que nos caiu em cima
acredita que o Estado deve deixar de gastar recursos quem não garante
retorno e concentrar-se apenas em apoiar , ajudar, estimular e dar
livre freio aos poucos negócios escolhidos - que, assim, não poderão
deixar de prosperar. Aquilo a que chamam "processo de ajustamento" da
nossa economia é um caminho deliberado de abandono do que acham que não tem
préstimo ou futuro: o emprego pago com salários decentes, os direitos do
trabalho, as pequenas empresas que não exportam, a própria classe média que
vive do trabalho. No fim do "ajustamento", ficarão apenas as grandes
empresas financiadas por baixos salários ou instaladas nos antigos monopólios
públicos com lucros garantidos, e uma multidão de emigrados ou de desempregado,
prontos a trabalhar por qualquer preço e em quaisquer condições. Esse será o
seu "sucesso" final."
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Miguel Sousa Tavares - Jornal Expresso de
22-Set-2012