Numa
tarde de muito calor, com vista para o Tejo, Jorge Palma sentou-se com a BLITZ
para uma conversa panorâmica sobre a sua longa e rica carreira. Sempre com
muito humor, o músico português desvendou alguns pormenores sobre o concerto
especial - sem público - que se encontra a preparar e também sobre a canção que
Carlos do Carmo lhe pediu para escrever. “Demorei quase 20 anos, mas gostei do
resultado final, e o Carlos também”. A omnipresença do piano na sua vida e a
curiosa relação que teve com a religião, na infância, foram outros dos temas da
nossa entrevista com Jorge Palma.
Este
ano celebrou o seu 70º aniversário. Conseguiu festejar, ou ainda estava
confinado?
Eu estava em Tavira, a gozar uns dias de férias. Normalmente
recebo muitas mensagens de parabéns e telefonemas. Mas os meus 70 anos
suscitaram um movimentar de amigos e colegas, com toda a gente a mandar-me vídeos muito fixes.
Foi surpreendente. E muito bom!
E não foram só amigos e colegas. O próprio Presidente da República
lhe enviou uma mensagem de parabéns!
Já vai aí! (risos) Quando eu fizer 80... o panteão? Já próximo das
tumbas. (risos)
Na
altura apresentou o esboço de uma
canção nova. Tem estado a trabalhar num próximo disco?
Comecei a trabalhar num próximo disco há mais de três anos, em 2017. Depois fui
deixando... Agora tenho este concerto e outro muito especial, a 1 de outubro no
Teatro Louletano, em Loulé, com um trio de jazz. São três craques do jazz, vamos lá a ver como se safo nessa, também. A partir daí vou rever
aquilo que já escrevi. E obviamente o vou modificar e atualizar. Eu não faço
promessas. Mas até ao final do ano hei de ter uns 10 ou 12 temas gravados, pelo
menos.
As pessoas cobram-lhe muito um disco novo? Perguntam quando sai?
Eu agora digo: “é quando estiver ao meu gosto, como eu quero”.
Nunca me senti pressionado para gravar discos. E tenho tido o privilégio, desde
o primeiro álbum, aliás, desde o primeiro single, de ter tido portas abertas e
nunca ter de me preocupar com o financiamento das despesas de estúdio, músicos
e essas coisas. Assim continua e se me sinto pressionado… não gosto. Por outro
lado, também já tenho aceitado encomendas, e aí funciono. Se me comprometo a
ter uma letra ou uma música, ou ambas, para determinada pessoa, em determinada
altura, aí consigo. O Carlos do Carmo já gravou uma canção que lhe estava
prometida há 20 anos. Disse-me: “Não é um fado, que tu não sabes escrever fado.
Escreve-me uma canção”. Eu demorei 20 anos, quase, mas gostei do resultado
final e o Carlos também. Há coisas que são sem prazo.
Ainda
prefere escrever à mão?
Houve uma altura, nos anos 80 e 90, em que usava uma máquina de
escrever muito velha. Mas só para 'imprimir'. Para escrever, é sempre
esferográfica e papel. Para responder a entrevistas e escrever textos, escrevo
diretamente no telemóvel ou no computador. Mas para escrever [canções] gosto do
movimento da mão solta. E de riscar e fazer setas e asteriscos, uma grande confusão.
(risos)
E percebe o que escreveu, depois?
Eu percebo. E aí passa-se a limpo, já no computador. Mas como tenho os meus
dois managers, que funcionam em estreita
colaboração, o André Sebastião e o Tiago Branco, há uma série de coisas que já
não tenho de fazer. Gatafunho uma letra, de forma legível, fotografo e eles
tratam de imprimi-la, com aqueles processos atuais todos, que eu sou um bocado
nabo em relação às novas tecnologias. Lá me desenrasco, no essencial. Não há
nada como a folhinha de papel e a caneta.
Na
rubrica da BLITZ, 101 Canções que Marcaram Portugal, Jorge Cerejeira escreveu sobre 'Bairro do Amor': “Jorge Palma é mais
do que música, é poesia. É aquele cigarro entre os dedos. É aquele sorriso
franco e aquela voz arrastada. É o rosto das madrugadas. Do tilintar de copos e
de conversas francas – como que a selar amizades eternas no último vodca
tónico”. Parece-lhe uma descrição justa?
Isso tem sido de
facto a minha vida. (risos) Pelo meio às vezes também faço vida saudável, na
natureza. Mas até há relativamente pouco tempo era isso. E o gin tónico, ou a
vodca ou o que fosse, não era nunca o último.
Mas
fala-se também de outras coisas: a poesia, a amizade...
Sim, só não me
vejo como um poeta. Isso é um bocado sacrilégio. À minha maneira, escrevo o que
penso, o que me vem da imaginação, e organizo-o muitas vezes em forma de verso.
Nem sempre, também tenho prosas poéticas. Mas basicamente são letras de
canções. O Sérgio Godinho é escritor de canções, eu também sou escritor de
canções. Não me posso comparar com o Herberto Hélder.
Lembra-se
de conhecer o Sérgio Godinho? Será uma das suas amizades mais duradouras...
Duradouras e
antigas, se bem que tenho amigos mais antigos. No meio da música, logo a seguir
ao 25 de Abril, as pessoas que estavam fora, como o Sérgio, o José Mário Branco
e muitos outros, começaram a voltar e inevitavelmente encontrámo-nos. Eu já era
“estudante” do trabalho do Sérgio Godinho, do José Mário Branco, do Fausto, do
Vitorino… há um grupo de pessoas que foram meus mestres, sem o saberem.
Inicialmente o Sérgio não me conhecia de lado nenhum, eu também não o conhecia
pessoalmente, mas os seus dois primeiros álbuns e os primeiros do José Mário
Branco... eu estudei aquilo, absorvi, analisei a forma de escrever palavras e
não só… foram grandes influências na minha vida. Quando voltei da Dinamarca
depois do 25 de Abril, o primeiro apartamento que aluguei era na Parede, e
fomos corridos por causa do barulho. Depois, no Príncipe Real, aconteceu a mesma
coisa. Isto com atrasos no pagamento das rendas. (risos) Penso que foi quando
morava na Travessa do Noronha, no Príncipe Real, que o Sérgio foi lá ter, não
sei se levado pelo Pedro Osório ou alguém com amigos comuns, e foi o início de
uma grande amizade. Ao meu segundo álbum, já faz um dueto comigo. A partir daí,
ele convida-me e eu convido-o, seja para espetáculos, discos… e fiz uma grande
tournée com ele, uma coisa bem trabalhada, com uma super banda que integrava
músicos que o acompanham e que me acompanham a mim. Andámos um ano e tal a
tocar em todos os sítios onde merece a pena tocar.
Qual
a pedra de toque da vossa amizade? Aquilo que mais vos une?
Foi a última
pessoa com quem estive antes do confinamento. Há muitos anos que moramos
relativamente perto; ele mora junto ao Largo do Rato, eu moro na Artilharia 1.
No meio temos o Jardim das Amoreiras, que tanto ele como eu frequentamos.
Lembro-me que antes de 18 de março, na véspera ou assim, bebemos uns chás e uns
cafés e estivemos a conversar. Não sei, eu entendo-o. Ainda hoje aprendo muito
com o que ele escreve, e ele também aprecia o meu trabalho. Pessoalmente,
funciona! Andámos muito juntos em 2015, 2016 e ainda em 2017, na estrada.
Primeiro em ensaios, na minha casa e na casa dele, a esboçar, a planear. Foram
tempos de intenso convívio. E agora, de vez em quando às três da manhã estamos
a falar ao telefone. É muito bom. “É tão bom…” [começa a cantar 'É Tão Bom', de Sérgio Godinho]
No
documentário “Vejam Bem”, diz-se que teve uma educação bastante religiosa...
Não diria bastante religiosa, não fui um beato. Mas acontece que
os meus vizinhos de baixo, um casal, eram muito religiosos. A minha mãe dizia
que era católica mas não punha os pés na igreja para ir à missa. Visitava
igrejas e catedrais, quando viajava… Mas não foi ela que me puxou para a
religião católica. Foram os meus vizinhos, que eram quase uns segundos pais. E
a partir dos 6, talvez, comecei a frequentar a catequese e a ler e a ler coisas
mais profundas, sem ser os bonequinhos dos cowboys. Comecei a pensar pela minha cabeça e a conjeturar, em
relação ao espaço, ao tempo, à eternidade. A vida depois da morte, o céu, o
inferno. Quando fui para o Liceu Camões, já não tinha convicção nenhuma. Com 11
anos já não ia à missa… mas [o meu amigo], o senhor Ami, como o batizei, ainda
me convenceu a fazer a primeira comunhão, aos 12 ou 13 anos. A partir daí já
não tinha fé nenhuma. Pelo menos no modelo que nos é apresentado, de Deus e da
Santíssima Trindade. A Bíblia é um grande livro, o Antigo e o Novo Testamento
são grandes livros de aventuras. (risos) Mas não tenho fé. Respeito as fés.
Acho que a fé é um grande utensílio para as pessoas, um grande apoio para muita
gente, mas também está na origem de muitas guerras, de muita carnificina,
sobretudo no envolvimento com a política.
O
piano foi também uma constante na sua vida desde muito cedo...
O piano foi uma constante, nunca deixou de ser, mesmo naqueles
anos em que andava na estrada - aí era a guitarra a minha companheira. Mas
nunca perdi o piano de vista. Sempre que encontrava um piano, em qualquer parte
do país, em casa de quem fosse... Quando comecei a baldar-me e me virei para o
rock ‘n’ roll, aquilo que tinha aprendido até ali, que estava ao nível do
terceiro ano de Conservatório, não esqueci. E depois, já por vontade própria,
resolvi continuar e terminar os estudos.
Que acabou aos 40?
Que acabei aos 40. (risos) As aulas de piano são individuais, mas
havia cadeiras de aulas coletivas - formação musical, acústica, história da
música, composição... E a algumas eu não podia ir, porque continuei a trabalhar
sempre, a dar concertos e fazer discos. Mas quando eu faltava havia sempre
colegas que me passavam os apontamentos da aula a que eu não tinha ido. Era
sempre o mais velho das aulas todas. (risos) Mas não o sentia. O espírito era
aquele: aprender. E esses anos foram maravilhosos: os professores, o convívio.
A aprendizagem. Eu sempre gostei de aprender e continuo a gostar.
Tem
memórias muito remotas do piano?
Sim, cresci com o piano à beira do berço. Desde que comecei a
subir para o banco do piano que foi um brinquedo para mim. Era dos meus brinquedos
preferidos.
E
foi sempre uma relação prazerosa? Muitas vezes, quem se dedica muito
intensamente a um instrumento ou a uma modalidade desportiva sente-se algo
aprisionado...
Por isso é que eu tive consciência, por volta dos 14 anos, que não
ia ser um solista de concerto. Esse pessoal sofre muito! Eu nunca tive um
esquema de disciplina… não dava com o meu feitio estar 8 ou 10 horas por dia
agarrado ao instrumento. Se bem que, quando participei num concurso integrado
nos festivais da Juventude Musical, em 1962, ganhei o segundo prémio no grupo
até aos 12 anos . Foi em Palma de Maiorca, esse festival, e durou 8 ou 10 dias.
Sei que fiquei fascinado. Pedia autógrafos aos pianistas e maestros e vim de lá
naquela: “vou ser maestro!” Qual quê. (risos) Aos 14 anos, quando deixei o
Liceu Camões e compulsivamente fui para um colégio interno, já sabia [que não
aconteceria], e quando voltei aos estudos, nos anos 80, sabia que nunca iria
ser um pianista profissional de concerto. Eu sabia a disciplina que isso implicaria
e que não iria ser um solista nem fazer concertos com orquestra. Dá-me muito
gozo tocar e deu-me muito gozo aprender peças difíceis do curso superior de
piano, que implica que, no final, tenhas [de tocar] três prelúdios e fugas de
Bach, um concerto - eu escolhi um concerto do Mozart, integral -, peças
difíceis de Liszt, Rachmaninov, Scriabin, estudos de Chopin... Safei-me
bastante bem nos exames. Lembro-me que, no [teatro] São Luiz, decidi tocar uma
peça de quase 6 minutos do Liszt. Claro que dei pregos. Mas este espaço de
tempo, este momento é meu. Aguentem-se! E mais recentemente, na comemoração dos
25 anos do meu álbum “Só”, fiz uns concertos - dois na Casa da Música, dois no
CCB, dois no Convento de São Francisco - e nesses seis concertos, decidi que 20
minutos [do espetáculo de mais] de duas horas, em que estava sozinho em palco,
seriam ocupados pela minha interpretação de uma sonata de Beethoven. Os três
andamentos. Claro que me enganei, várias vezes, houve quem se calhar tenha ido
fumar um cigarro. (risos) Mas levaram com aquilo e depois passei outra vez para
as minhas músicas. Dá-me gozo!
Disse
que foi “compulsivamente” para um colégio interno...
Sim, já estava quase a falhar pela segunda vez o quarto ano do
liceu.
Foi na altura em que o seu pai o foi buscar ao Algarve, onde estava a
tocar com uma banda em bares?
Não, aí o meu pai e a minha mãe decidiram em conjunto. Ninguém tinha mão em
mim. A minha salvação seria ir para um sítio onde houvesse alguma disciplina. E
havia muita disciplina no Colégio Interno das Mouriscas, [dirigido pelo] doutor
Santana Maia, uma excelente pessoa, mas com mão… um pulso, não direi de ferro,
mas muito firme. E isso foi muito importante para mim.
Quanto
tempo lá esteve?
Três anos e tal. Nas férias da Páscoa, eu era suposto acabar o 7º
ano, ou seja, o curso de liceu. Vou passar uns dias ao Algarve e encontro uns
músicos que eram de Santarém, por acaso. Tinham uma banda, precisavam de um
teclista e eu disse: “OK, contem comigo!” Arranjou-se uma pianola e fiquei com
eles até ao fim do verão; muita coisa aconteceu nesses meses. No fim do verão,
quando o turismo estava já a esmorecer, as coisas não estavam a correr tão bem,
economicamente. E é aí que o meu pai aparece sem avisar, como cliente no sítio
onde eu estava a tocar, que estava às moscas. Estava a cantar uma música do
Otis Redding e reparo: “olha o meu pai e a minha madrasta!” E ele, muito
calmamente, disse-me: “pensa na hipótese de acabares o sétimo ano. Vens viver
connosco…” Eu pensei dois dias e aceitei a proposta. Acabei o sétimo ano e
andei na Faculdade de Ciência quase três anos. Mas não passei do segundo ano,
já tinha cadeiras atrasadas. Comecei a deixar de ir às aulas. Coincide com a
altura em que conheço o José Carlos Ary dos Santos, através do Fernando Tordo,
que me deu o número de telefone dele, e isso é também um marco… foram tempos
muito bons de aprendizagem, de convívio. [O Ary dos Santos] de facto o meu
mestre no que diz respeito a articular as palavras. Acentuações, prosódia,
métrica, foi um excelente mestre. Depois segui o meu caminho…
E
o seu pai ficou contente?
O meu pai ficou contente na altura, claro! Depois deixei de ir às
aulas na faculdade… mas já sabia que ia ser músico. Sem rede. E não me tenho
dado mal. (risos)
Em que curso entrou?
Fui para a faculdade de ciências, mas para o curso de Engenharia Eletrotécnica.
Se tivesse feito as cadeiras e entrado no terceiro ano, teria ido para o
[Instituto Superior] Técnico. Mas isso não aconteceu. Eu estava a marimbar-me
para as aulas. E como faltava muito e não estudava... cadeiras como a
Matemática, se não vais formando uma pirâmide sólida, chegas até certo ponto e
já não percebes o que estás a fazer. Isso aconteceu-me com as integrais.
Em
tempos disse que não se considera panfletário e nunca teve paciência para
pertencer a qualquer partido. É por isso que a sua música é considerada menos
política que a do José Mário Branco ou até do Sérgio Godinho?
Isso foi uma coisa que aprendi antes do 25 de Abril, com o Ary e
muitos outros, que escreviam nas entrelinhas. Prefiro ser subtil, sem mencionar
necessariamente determinado facto ou acontecimento, ou o estado das coisas.
[Prefiro] referi-los, integrando-os na história ou na canção.
Uma das palavras que usa mais em entrevistas é
"resiliência". É uma virtude importante para si?
Agora usa-se muito [essa palavra]! Há uns anos usava resistência,
perseverança, persistência, teimosia... Mas sim, sou uma pessoa resiliente e
tenciono continuar a ser. Há valores que, a partir do momento em que qualquer
ameaça os ponha em causa, arranjo maneira de ultrapassá-las.
Como a liberdade?
Toda uma série de valores que me foram incutidos desde muito
jovem. E que estão entranhados em mim, fazem parte do meu subconsciente e do
meu inconsciente. A liberdade é um deles, sim.
O
grande êxito que obteve com 'Encosta-te a Mim', em 2007, surpreendeu-o?
Surpreendeu. Desde o primeiro álbum que me habituei a não ter
muitas expectativas e a não antecipar nada… Essa canção esteve para não entrar
no álbum ["Vôo Nocturno"]. Eu achava que era uma balada, que estava
gira… Mas amigos meus, como o Rui Veloso, o João Gil, o Tim, pessoas com quem
na altura estava a trabalhar, no [grupo] Rio Grande, e com quem estava quase
todos os dias, ouviram a canção e disseram: “és uma besta, tens de meter essa
música no álbum”. E de facto aconteceu aquilo. Mas não vale a pena a gente
pensar: “isto vai ser um êxito”. Qual quê!
Fez
parte do Rio Grande, dos Cabeças no Ar, do Palma's Gang... também é um bom
jogador de equipa?
Acho que sim, que me integro. Grande jogador não sei. É impossível
dissociar da bola. (risos) Eu joguei à bola, claro, como todos. Mas o futebol
não me interessa particularmente. Mas entro no espírito das pessoas com quem
estou a tocar e vice-versa. Tenho feito muitas brincadeiras, muitas jam
sessions e gravado discos [com outras pessoas].
Ainda
se considera "o músico mais perdoado de Portugal"?
Isso era o Zé Pedro que dizia! Não sei se o termo será perdoado.
Acaba por ser mais compreendido… Os meus excessos, por exemplo: toda a gente
tem defeitozinhos, excessos ou tendência para determinada coisa. Eu acho que as
pessoas compreendem. E percebem que eu estou ativo e vou fazendo coisas
engraçadas. E com um certo conteúdo. E que sou honesto no meu trabalho. “Oh
Palma, tu és o artista mais perdoado em Portugal!”. Acho piada a isso. (risos)
É uma boa frase....
Já dei muita bandeira! Mas acho que há cumplicidade [do público].
As pessoas também são, de certa forma, cúmplices do meu modo de estar, um
bocado para o exagero. (risos)
Para
terminar: é mais cabeça ou coração?
A cabeça é fundamental. Tudo passa pela cabeça. O coração eu não
controlo. Não quer dizer que controle a minha cabeça, que isto é muito
complicado. Mas as zonas do meu cérebro às quais tenho acesso... tento
racionalizar, faço todo o possível para entender o que está a acontecer. O
cérebro é extremamente importante. Sem coração, obviamente que não há vida. Mas
eu não o controlo. Sei lá se daqui a bocado vou apaixonar-me por algo ou por
alguém. “Coração que não controlo...” Há uma canção da Amália escrita por ela
que é mais ou menos isso (risos). O coração eu não controlo: deixo-o
exprimir-se, deixo-o respirar.
A
BLITZ agradece ao Museu da Água pela
cedência das suas instalações para a realização desta entrevista