25 abril 2008

Liberdade!


Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Foto - Jacinto Policarpo www.olhares.com

22 abril 2008

Lisboa 1900-1910

Lisboa - 5 de outubro

Preciosidade publicada no Bic Laranja . "Estrada rural e mercado dos gados antes da abertura do último troço da Av 5 de Outubro. Ao longe e por trás da cúpula de vidro, as torres neo-árabes da Praça do Campo Pequeno."

19 abril 2008

A pele da madrugada

Cada dia tenho menos uma letra,
uma boca e a mão para a dizer.
Fui colhendo a noite, palavras surdas,
o silêncio que a morte continua
sob a pele da madrugada.
Cada dia tenho menos um coração,
menos uma noite. Resta-me a memória
de abril dentro um copo de esquecimento,
o fundo da liberdade
que alguém bebeu de nós:
a canção morena da alegria,
o cravo ao rubro de fundir a paz.
Menos uma boca, uma criança
alada. Menos uma cidade onde a esperança
se cola ao rosto. Os meus passos presos
ao chão são menos o olhar que a manhã
oferece. Mas era uma vez e aconteceu
um dia, em todos os outros desse dia,
por muito tempo e ainda agora:
acordar, pôr o café na chávena
e barrar o pão com a liberdade.


Rosa Alice Branco

14 abril 2008

Perdido o pudor fica o poder

"...Numa altura de novas pontes, ferrovias e aeroportos vai ser interessante observar o relacionamento entre a Mota-Engil de Jorge Coelho e a Lusoponte de Ferreira do Amaral...,

... Mas ninguém vai perder! Surpreendente? Não! Afinal foi assim que o Bloco Central se formou e se mantém. À custa dos milagres do método de Hondt, onde a partir de um certo número de votos nunca ninguém perdeu um lugar lá porque perdeu uma eleição. Só que Victor d'Hondt, provavelmente, nunca imaginou ver o seu método aplicado à economia de mercado."

Mário Crespo JN

12 abril 2008

A sombra sou eu!

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!


Almada Negreiros (1893-1970)