"O grande filósofo espanhol Unamuno (1864-1936) conhecia bem Portugal. Foi amigo de Manuel Laranjeira, que terminou a vida disparando um revólver contra si próprio, em 1912. Unamuno registou também a bala mortal de Antero de Quental (1891), antecedida do disparo fulminante de Camilo Castelo Branco (1890). A indução é quase inescapável. Unamuno chamou a Portugal "um país de suicidas". Ao olhar para a situação deplorável do Governo, é impossível não pensar que o diagnóstico do pensador espanhol permanece, de alguma maneira, válido. Num Governo com ampla maioria parlamentar, suportado incondicionalmente por Belém, com uma oposição cordata, o Executivo implode devido ao desacerto entre Passos e Portas. Há, contudo, duas diferenças: Laranjeira, Quental e Camilo puseram termo à existência, não na sequência de uma explosão narcísica, como no choque entre Portas e Passos, mas talvez por terem olhado o mundo de frente, demasiado tempo, sem pestanejar. Em segundo lugar, Laranjeira, Quental e Camilo dispararam apenas contra si próprios, enquanto Portas e Passos agrediram uma nação inteira.
Não foi só a destruição de valor na Bolsa nacional, que escalou
quase aos três mil milhões de euros. É a confirmação, aos olhos do mundo
inteiro, de que somos liderados por adolescentes que não cresceram, na altura
em que o País precisaria, desesperadamente, de estadistas. Quanto aos
dirigentes do CDS que mandataram Portas para dialogar com Passos, aconselho a
que troquem os filmes de série B, sobre zombies, por leitura clássica.
Recomendo o Livro dos Mortos do Antigo Egito, um tesouro de espiritualidade
recuperado para a Europa pelo alemão Karl Lepsius. Aí se aprende que a viagem
dos mortos se faz apenas num sentido. Sem regresso."
Viriato
Soromenho Marques Diario Noticias
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