27 outubro 2006

A Memória Meditada


A vida sendo presente é sobretudo passado, adquirindo verdadeiro sentido quando despertarmos das memórias os acontecimentos que nos ligaram indubitavelmente a essa esplendorosa viagem da qual Pitágoras apelidou e bem, de grande sala de espectáculos. Remexemos no baú das nossas recordações e eis que encontramos testemunhos de tempos menos meditados e por isso mesmo, vazios de uma atenção mais cuidadosa, justificando assim nos tempos presentes, um outro olhar e porventura uma leitura muito mais atenta e quiçá uma dedicação mais apaixonada. Há uns anos não muito longínquos conheci Fausto Bordalo Dias, compositor, cantor e um dos melhores criadores de música popular portuguesa, assisti de uma forma privilegiada a concertos musicais por si interpretados, tão importantes na sua carreira como os que se realizaram no Teatro S. Luis, no Rossio e Praça do Comércio em Lisboa, em Almada, no CCB, e por último no Seixal. Passados que foram trinta e cinco anos e encontrar uma referência deste cantor na revista Flama publicada no verão de 1972, é uma sensação de caminho percorrido desde há muito com a sua música e os poemas deste grande "trovador mas não bobo, sinaleiro mas nunca polícia", como o classificou e bem João Gobern na apresentação do seu último trabalho, A Ópera Mágica do Cantor maldito, no CCB.
Razão tem François René quando afirmou que “ A nossa vida é tão vã que não passa de um reflexo das nossas memórias”. E hoje nesta caminhada imensamente conturbada, aumenta a necessidade de continuarmos referenciados e lúcidos, de guião em punho e a voar por cima das águas, para bem das nossas existências.

20 outubro 2006

Janeiro de Cima

Seguindo o conselho do Rui Dias José , percorri por uns breves instantes o álbum de Sílvia Antunes e fiquei maravilhado com o que lá fui encontrar. É muito reconfortante saber de que ainda existem boas vontades na preservação do que é português, contra a acutilância desmesurada das novas tecnologias quantas vezes inadequadas e impróprias na sua utilização ao nível do traço arquitectónico das nossas casas.

É pois, para quem aprecia estes estados de alma, muito recomendável visitar este álbum da Sílvia Antunes de onde estas duas fotos foram tiradas e porque não a própria aldeia, situada na região do Fundão e chamada Janeiro de Cima.

16 outubro 2006

Adriano Correia de Oliveira


Porto, 9 de Abril de 1942 – Avintes, 16 de Outubro de 1982

Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada

Saudades de Adriano

10 outubro 2006

A Esplêndida Cidade


Um pobre e esplêndido poeta, o mais atroz dos desesperados, escreveu esta profecia: “Ao amanhecer, armados de uma ardente paciência, entraremos nas esplêndidas cidades.” Eu creio nessa profecia de Rimbaud... Sempre tive confiança no homem. Não perdi jamais a esperança. Por isso talvez tenha chegado até aqui com a minha poesia, e também com a minha bandeira. Em conclusão, devo dizer aos homens de boa vontade, aos trabalhadores, aos poetas, que todo o porvir foi expresso nessa frase de Rimbaud: só com uma ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade que dará luz, justiça e dignidade a todos os homens.
Assim a poesia não terá cantado em vão.

Pablo Neruda
Ilustração_ Dafni A Tzitzivakos

03 outubro 2006

Vais ver, o sol brilhará


Não sou o único
....
Pensas que sou um caso isolado
Não sou o único a olhar o céu
A ouvir os conselhos dos outros
E sempre a cair nos buracos
A desejar o que não tive
Agarrado ao que não tenho
Não, não sou o úinico
Não sou o único a olhar o céu

E quando as nuvens partirem
O céu azul ficará
E quando as trevas abrirem
Vais ver, o sol brilhará
Vais ver, o sol brilhará

Foto_Carlos Pereira
Poema_Tim (Xutos e Pontapés)