05 dezembro 2006

Para pensar...

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades.

Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê.

... A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho ...

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos.

A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

João Pereira Coutinho ( Jornalista )
Foto - Sérgio P.

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom artigo! Grato por mo dar a conhecer. Cumpts.
P.S.: eu conheci o Luís da Conceição; era muito bom homem, bem disposto; lastimo saber que nos deixou.

Teresa Calcao disse...

Passei por aqui e gostei.....Textos variados,interessantes, e alguns cheios de recordacoes....Thank you!
:)

isabel mendes ferreira disse...

para ler e tomar Prozac.....:)



forte.



estruturado no bom senso e acutilância.



bom dia...

isabel mendes ferreira disse...

para ler e tomar Prozac.....:)



forte.



estruturado no bom senso e acutilância.



bom dia...

Anónimo disse...

Belo mapa do que é a vida de uma criança desde que nasce até que continua a louca vida de adulto. Infelizmente esta é a forma doentia como se educam as crianças hoje em dia...preparadas para «matar». Também comecei por entrar nesse esquema, até que a determinada altura me apercebi que estava a educar uma máquina e não uma filha. Desisti de querer que ela soubesse tudo antes dos 10 anos e dei-lhe uma oportunidade para ser ela a descobrir o mundo (as suas maravilhas e as suas amadilhas), pois só assim é que ela poderá ser GENTE. Acho que, com erros ou não estou a contribuir para que ela seja muito mais feliz. Pelo menso o sorriso dela é um grande trunfo.
Parabéns pela análise sucinta e eficaz.