AS AMORAS
O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade 19 de Jan 1923/13 de Jun 2005
Retrato da autoria de Emerenciano , 1988 - Técnica mista
2 comentários:
O nosso país já não sabe a amoras bravas, já não tem voz doce... nem muros brancos, nem céu azul. Acho que o meu (o nosso) país, infelizmente, está moribumdo.
E foram-se os poetas... também já não tem quem lhe cante!
Este poema do Eugénio de Andrade, bem bonito, fez-me pensar no terreno inculto que existe por trás da minha casa, cheio de silvas, e que no Verão não faltam amoras bravas que são bem boas. E também no nosso país o céu ainda é azul (desde que não esteja coberto por núvens, claro).
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