É hábito as televisões portuguesas, na quadra natalícia, melhorarem a grelha sobretudo com a exibição de filmes e a transmissão concertos de música. A RTP-1 também cumpriu a tradição, mas no caso da música portuguesa fê-lo da pior maneira. Começo pelos horários: Marco Paulo, Tony Carreira e Anjos passaram em horário nobre enquanto que José Mário Branco, João Braga e Camané foram atirados para a madrugada. Por exemplo, o concerto de José Mário Branco que teve como convidados nomes tão importantes como Fausto Bordalo Dias, Júlio Pereira, Filipa Pais e José Peixoto passou – pasme-se! – depois das 2:30 da madrugada. Desconheço qual o critério usado pela direcção de programas da RTP-1 para a desigualdade de tratamento dada aos vários artistas da nossa praça, mas partindo do pressuposto que pesou uma suposta maior popularidade de uns em relação a outros, então a televisão pública prestou um péssimo serviço público. A televisão pública não pode nem deve andar atrás de audiências mas tão-somente procurar apresentar o melhor serviço que está ao seu alcance. Nem vou ao ponto de dizer que nomes como Marco Paulo, Tony Carreira e Anjos (incluindo todos os ‘Pimbas’ que costumam marcar presença nos programas da manhã e da tarde) não devem ter lugar na televisão pública mas já não posso aceitar, de forma alguma, a marginalização de que cantores / intérpretes de créditos firmados e de qualidade incontestada vêm sendo alvo. E digo isto não tanto pela consideração de que tais artistas são credores, mas apenas pelo respeito que a direcção de programas da RTP-1 devia ter pelos telespectadores seus apreciadores. Assim fica-se com a ideia que de que para a televisão estatal só interessam os apreciadores de Marco Paulo, Tony Carreira, Anjos e afins enquanto que os demais telespectadores não contam para nada. Ou servirão apenas para pagar a taxa do audiovisual?E como se isto não bastasse, constata-se ainda que muitos artistas de qualidade reconhecida (entre os quais algumas figuras de referência da música portuguesa) nem sequer têm acesso à televisão do Estado, mesmo em horários esconsos, o que me parece muito grave. Por que motivo os telespectadores da televisão pública não podem ver / ouvir uma Mísia, uma Aldina Duarte, uma Ana Laíns, uma Amélia Muge, um Pedro Barroso, um Vitorino, um Janita Salomé, um Eduardo Ramos, um Rão Kyao, um Júlio Pereira, um Pedro Caldeira Cabral, um José Peixoto, um Pedro Jóia, uns Frei Fado d’El-Rei, isto para já não falar em tantos e bons agrupamentos de música folk / tradicional – Aqua d’Iris, At-Tambur, Belaurora, Brigada Victor Jara, Canto da Terra, Charanga, Chuchurumel, Contrabando, Danças Ocultas, Dar de Vaia, Dazkarieh, Gaiteiros de Lisboa, Galandum Galundaina, Lúmen, Maio Moço, Mandrágora, Mare Nostrum, Melodias do Vento, Moçoilas, Modas ao Luar, Mu, José Barros e Navegante, Nem Truz Nem Muz, Ódagaita, Pedra d’Hera, Popularis, Quadrilha, Real Companhia, Realejo, Roda Pé, Roldana Folk, Ronda dos Quatro Caminhos, Rosa Negra, Segue-me à Capela, Som Ibérico, Terrakota, Trovas à Toa, Vá de Viró, Vai de Roda.Não competiria à televisão que todos financiamos dar a conhecer ao grande público o que de melhor se faz em Portugal em matéria de música popular? Será razoável que o dinheiro dos contribuintes seja desbaratado com os produtos de mais baixo nível, e se sonegue o que tem mais qualidade e autenticidade? Uma das atribuições do serviço público de televisão não é a promoção da língua e cultura portuguesas? Ou será que o Sr. Nuno Santos entende que a música pimba e a música de cassete pirata são o que melhor representa a cultura portuguesa?
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3 comentários:
Um bom artigo meu Amigo
Bom Fim de Semana
nada a fazer e tenho muita pena
Qual é a admiração?
Todo o povo tem ( também ) a televisão que merece: com porcos no horário do nobre e pérolas no do pobre; aquele reconhece-se, o outro desconhece, uhmm... e a TV esvanece-se.
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