20 setembro 2008

Artes do silêncio

... o Abade Dinouart lembra que, se o silêncio é de ouro, é não só porque ele não compromete, mas também porque ele permite todas as nuances, todos os cálculos e todos os equívocos, podendo induzir verdadeiras transfigurações, como as de «fazer de um homem limitado um sábio, e de um ignorante um homem capaz.»...

...O silêncio pode assim ser prudente, quando domina a conveniência de acordo com o tempo e o lugar, artificioso quando quem se cala o faz para surpreender, complacente quando se quer sobretudo agradar, trocista quando se quer iludir ou espiritual quando a intenção é só insinuar.

... Mas o silêncio pode ainda ser estúpido, quando revela alguém taciturno, que não significa nada, de aprovação quando exprime sintonia ou simpatia, de desprezo quando afecta frieza, ou de humor quando varia com a disposição subjectiva do momento. O último é o silêncio político que, diz o Abade Dinouart, é o de uma pessoa «prudente, que se cuida, se conduz com circunspecção, que não se abre, não diz o que pensa, não explica a sua conduta nem os seus propósitos. Que, sem trair a verdade, não responde com clareza para que não o descubram...

Manuel Maria Carilho

1 comentário:

mfc disse...

É polissémico.