22 setembro 2005

SETEMBRO...

Pequena elegia de Setembro

Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.

Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade

1 comentário:

Videos by Professor Howdy disse...


Dear Manuel,

You have a riveting web log
and undoubtedly must have
atypical & quiescent potential
for your intended readership.
May I suggest that you do
everything in your power to
honor your Designer/Architect
as well as your audience.

Please remember to never
restrict anyone's opportunities
for ascertaining uninterrupted
existence for their quintessence.

Best wishes for continued ascendancy,
Dr. Howdy

'Thought & Humor'