

A vida sendo presente é sobretudo passado, adquirindo verdadeiro sentido quando despertarmos das memórias os acontecimentos que nos ligaram indubitavelmente a essa esplendorosa viagem da qual Pitágoras apelidou e bem, de
grande sala de espectáculos. Remexemos no baú das nossas recordações e eis que encontramos testemunhos de tempos menos meditados e por isso mesmo, vazios de uma atenção mais cuidadosa, justificando assim nos tempos presentes, um outro olhar e porventura uma leitura muito mais atenta e quiçá uma dedicação mais apaixonada. Há uns anos não muito longínquos conheci Fausto Bordalo Dias, compositor, cantor e um dos melhores criadores de música popular portuguesa, assisti de uma forma privilegiada a concertos musicais por si interpretados, tão importantes na sua carreira como os que se realizaram no Teatro S. Luis, no Rossio e Praça do Comércio em Lisboa, em Almada, no CCB, e por último no Seixal. Passados que foram trinta e cinco anos e encontrar uma referência deste cantor na revista
Flama publicada no verão de 1972, é uma sensação de caminho percorrido desde há muito com a sua música e os poemas deste grande "
trovador mas não bobo, sinaleiro mas nunca polícia", como o classificou e bem João Gobern na apresentação do seu último trabalho, A Ópera Mágica do Cantor maldito, no CCB.
Razão tem François René quando afirmou que “
A nossa vida é tão vã que não passa de um reflexo das nossas memórias”. E hoje nesta caminhada imensamente conturbada, aumenta a necessidade de continuarmos referenciados e lúcidos,
de guião em punho e a voar por cima das águas, para bem das nossas existências.