Diz-se que há-de vir
uma era justa e boa
em que o valor da pessoa
se mantém quando envelhece.
Está no trabalho que fez.
Para conseguir uma coisa como esta
dava o sangue que me resta.
E era como se tivesse
nascido mais uma vez.
Deram-nos este banco de avenida
onde a sombra nos dói e a tarde gela
e daqui vemos nós passar a vida
Sem que a vida nos sinta perto dela.
Assim nos atiraram para fora
das coisas que ajudámos a fazer.
Ai, como o sol aquece pouco agora.
Ai, muito custa à noite adormecer.
Fomos pedreiros, varredores, ardinas
fizemos casas, cultivámos terras,
criámos gado, entrámos pelas minas,
demos os filhos para as vossas guerras.
Demos as filhas para vos servir,
cortámos lenha para a vossa fogueira.
E o tempo a ir-se, e a gente a pressentir
que vos demos sem querer a vida inteira.
E ainda é sangue o que nas veias corre.
Ainda é raiva o que nos dobra a mão.
Ainda ecoa um sonho que não morre
no nosso velho e atento coração.
Poema "Os Velhos " de Hélia Correia ________ Fotografia de Jorge Folha
uma era justa e boa
em que o valor da pessoa
se mantém quando envelhece.
Está no trabalho que fez.
Para conseguir uma coisa como esta
dava o sangue que me resta.
E era como se tivesse
nascido mais uma vez.
Deram-nos este banco de avenida
onde a sombra nos dói e a tarde gela
e daqui vemos nós passar a vida
Sem que a vida nos sinta perto dela.
Assim nos atiraram para fora
das coisas que ajudámos a fazer.
Ai, como o sol aquece pouco agora.
Ai, muito custa à noite adormecer.
Fomos pedreiros, varredores, ardinas
fizemos casas, cultivámos terras,
criámos gado, entrámos pelas minas,
demos os filhos para as vossas guerras.
Demos as filhas para vos servir,
cortámos lenha para a vossa fogueira.
E o tempo a ir-se, e a gente a pressentir
que vos demos sem querer a vida inteira.
E ainda é sangue o que nas veias corre.
Ainda é raiva o que nos dobra a mão.
Ainda ecoa um sonho que não morre
no nosso velho e atento coração.
Poema "Os Velhos " de Hélia Correia ________ Fotografia de Jorge Folha
6 comentários:
Um Bom poema.
Bom Fim de Semana
Lindo poema escolheste.
A sua actualidade bem o justifica.
Infelizmente neste estado de correria esquecem-se. muitas vezes, aqueles que com a sua vida ajudaram a que vivessemos a nossa.
Felicito-te pela solidariedade.
Beijo
Bela imagem e belo poema, meu caro Manuel Gomes. Parabéns pela escolha, reveladora, sem margem para dúvidas, da apurada sensibilidade de quem a fez.
Os velhos nõ são do Pombalinho?... Ou são? Em caso afirmativo, quem?
Um abraço.
Caro Amigo Guilherme Afonso
Obrigado pelas suas palavras.É sempre gratificante receber os seus comentários sobre os mais diversos temas que vou publicando por aí um pouco ao sabor deste tempo, difícil, tremendamente injusto, mas também belo e potenciado de maravilhosas condições de vida. Pena é que alguns o não comprendam.
Os velhos não são do Pombalinho, a fotografia, retirei-a do "Olhares" neste endereço http://olhares.aeiou.pt/choque_de_culturas/foto39334.html , da galeria de Jorge Folha.
Cara Maria Faia
Obrigado pelas palavras que me endereçaste no teu sempre bem vindo e simpático comentário.
Um beijo
Muito bonito o poema e a fotografia muito expressiva. Os idosos merecem-nos o nosso maximo respeito e admiração. Além de nos antecederem, e saberem melhor dos segredos do lugar onde habitamos. Isso faz deles autenticas bibliotecas de recordações. Preservemos a sua sabedoria.
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